quinta-feira, novembro 10, 2005

in O PÚBLICO



A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também
não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o
problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na
farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo.
Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país
onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais
do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma
virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em
valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde,
lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como
em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde
se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL,
DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.

Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são
fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos,
que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel,
lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os
trabalhos de escola dos filhos ... e para eles mesmos. Pertenço
a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram
comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a
declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito.
Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.
Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram
lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os
esgotos.
Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.
Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens
dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem
memória política, histórica nem económica. Onde nossos
políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos
e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média
e beneficiar a alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações
médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame.
Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher
com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no
autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme
para não dar-lhe o lugar. Um país no qual a prioridade de
passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos
muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos
governantes.

Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me
sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem
corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu
como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei
um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar
algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta.

Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas,
mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso
país precisa. Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE
PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena
escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos
escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais
do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e
honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós,
ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...
Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje
mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando
com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos
nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma
garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém
não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os
vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu
Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve
Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei
com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa.
E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para
cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados,
ou como queiram, seguiremos igualmente condenados,
igualmente estancados....igualmente abusados!
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade
autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades
de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...
Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos
mandam um messias.

Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos
portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós
que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem
em tudo o que anda a nos acontecer: desculpamos a mediocridade
de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com
o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o
responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim,
exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de
mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e
ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME
OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO
PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.

E você, o que pensa?.... MEDITE!

APARENTEMENTE, ESTE TEXTO NÃO É DE EDUARDO PRADO COELHO

Acabei de receber um email que me informa que este texto não é do Eduardo Prado Coelho e nem foi do Ubaldo Ribeiro. Aparentemente começou por ter sido escrito no Brasil e exportado para Portugal, com adaptações.
A César o que é de César!
Se não é do EPC peço desculpa de o ter publicado, mas acreditei que fosse, até porque não me parece que qualquer português não sinta que quase tudo o que aqui é dito é verdade. Possivelmente os nossos irmãos brasileiros sentirão o mesmo.

E já agora leiam o link que abaixo publico para melhor informação.

Não apago o texto pois tenho comentários publicados e respeito os comentadores, mas como respeito quem se dizia ser o autor e afinal não é, também aqui vão as minhas desculpas a ele e a todos os leitores. Coisas destas acontecem e são aborrecidas mesmo.

Aí vai o link:

http://ablasfemia.blogspot.com/2005/11/anatomia-de-um-11-boato.html


5 comentários:

Dad disse...

Por muito que me custe admitir, infelizmente vejo no texto do P.Coelho muitas das actuais caracterisiticas deste povo que só pede, exige e trabalha muito pouco.
Há como que uma doença colectiva de falta de auto estima e de indisciplina que nos faz não conseguir produzir o que os outros produzem mas estamos sempre a tempo de rever as nossas posturas pessoais. É triste que a fiscalização tenha que andar sempre em cimna pois essa essa uma característica lusitana...se pudermos escapar, escapamos...
No entanto eu continuao a acreditar que isto há-de mudar - é assim um género de dores do parto para que nasça uma sociedade mais justa. Enfim, como alguns amigos meus dizem...eu sou muito romântica...continuo a acreditar que tudo vai sempre melhorar.

Anónimo disse...

Pois é, Rui, como ele diz na conclusão, vê-se ao espelho... e acha que não precisa de procurar muito longe.
O que ele tem a mais que os outros portugueses é o facto de se lavar, vestir, sentar à secretária ou à mesa de café, escrever um texto (ou não fosse a escrita o fenómeno narcísico por excelência) em que fala mal de TODOS OS PORTUGUESES, incluindo os últimos e o actual primeiro-ministro, e, ainda, fazer-se pagar por isso (chorudamente, que os nossos intelectuais viraram pensadores/filósofos conceituados a todos os níveis, reconhecidos pelo novo poder - os media)

Marco Oliveira disse...

Caríssimos,
Tenham calma.
Este texto é uma fraude.
Ora leiam isto e consultem os links.
http://ablasfemia.blogspot.com/2005/11/anatomia-de-um-11-boato.html

Anónimo disse...

Na minha pobre ignorância de lusitano de fim de semana, a solução é guardar o país e mandar o povo embora !...
Faz-me imensa confusão que o E. Coelho tenha escrito com esta intensidade mas, como quem vê caras não vê cús, fica o benefício da dúvida.
E como para a situação actual o maior culpado, na minha opinião, é o Sampaio, quase tenho "ganas" de gritar, Viva o Rei porque esta Répública de Répública só tem o nome e nem das Bananas merece ser chamada.
Pobre povo sofredor deste meu sofrido país que tem que pagar as besteiras dos (maus) políticos, carrega as culpas de todos os males e ainda paga as "favas".

Dad disse...

portugueses e brasileiros sofrem de males comuns....