terça-feira, abril 24, 2012

UM POEMA DE JOSÉ JORGE LETRIA

Quando se ouviu um tiro na Praça Syntagma,


logo houve quem dissesse: “É a polícia que ataca !”.

Mas não, Dimitris Christoulas trazia consigo a arma,

a carta de despedida, a dor sem nome, a bravura,

e vinha só, sem medo, ele que já vivera os tempos

de silêncio e chumbo do terror dos coronéis.

Mas nessa altura era jovem e tinha esperança.

Agora tudo isso findara, mas não a dignidade,

que essa, por não ter preço, não se rende nem desiste.



Dimitris Christoulas podia ser apenas um pai cansado,

um avô sem alento para sorrir, um irmão mais velho,

um vizinho tão cansado de sofrer. Mas era muito mais

do que isso. Era a personagem que faltava

a esta tragédia grega que nem Sófocles ou Édipo

se lembraram de escrever, por ser muito mais próxima

da vida do que da imaginação de quem efabula.

Ouviu-se o tiro, seco e certeiro, e tudo terminou ali

para começar logo no instante seguinte sob a forma

de revolta que não encontra nas bocas

as palavras certas para conquistar a rua.

Quando assim acontece, o silêncio derruba muralhas.

Aos jovens, que podiam ser seus filhos e netos,

o mártir da Praça Syntagma pediu apenas

para não se renderem, para não se limitarem

a ser unidades estatísticas na humilhação de uma pátria. Não lhes pediu para imitarem o seu gesto,

mas sim que evitassem a sua trágica repetição.

E eles ouviram-no e choraram por ele, e com ele,

sabendo-o já a salvo da humilhação

de deambular pelas lixeiras para não morrer de fome.



Até os deuses, na sua olímpica distância,

se perfilaram de assombro ante a coragem deste gesto.

Até os deuses sentiram desprezo, maior do que é costume, pela ignomínia de quem se vende

para tornar ainda maior a riqueza de quem manda.

A Dimitris bastou um só disparo, limpo e breve,

para resumir a fogo toda a razão que lhe ia na alma. Estava livre. Tornara-se herói de tragédia

enquanto a Primavera namorava a bela Atenas,

deusa tantas vezes idolatrada e venerada.

Assim se despedia um homem de bem,

com a coragem moral de quem o destino não vence.



Quando o tiro ecoou na praça de todas as revoltas,

Dimitris Christoulas deixou voar uma pomba,

uma borboleta, uma gaivota triste do Pireu

e disse, com um aceno: “Eu continuo aqui,

de pé firme, porque nada tem a força de um homem

quando chega a hora de mostrar que tem razão”.

Depois vieram nuvens, flores e lágrimas,

súplicas, gritos e preces, e o mártir da Syntagma,

tão terreno e finito como qualquer homem com fome,

ergueu-se nos ares e abraçou a multidão com ternura.



José Jorge Letria



6 de Abril de 2012

terça-feira, abril 17, 2012

Contos da carochinha...



À porta do Ministério da Educação, na Av. 5 de Outubro, foi encontrado
um recém-nascido abandonado.

O bebé foi limpo e alimentado pelos funcionários que decidiram dar
conhecimento do assunto ao Ministro da Educação.
Depois de oito dias, é emitido o seguinte despacho, dirigido ao
Secretário de Estado:
Forme-se um Grupo de Trabalho para investigar:
a) - Se o 'encontrado' é produto doméstico deste Ministério
b) - Se algum funcionário deste Ministério se encontra com
responsabilidades neste assunto.
Após um mês de investigação, o Grupo de Trabalho, conclui:
'O encontrado' nada tem a ver com este Ministério pelas razões seguintes:
a) - Neste Ministério não se faz nada por prazer nem por amor;
b) - Neste Ministério jamais duas pessoas colaboram intimamente para fazerem
alguma coisa de positivo;
c) - Neste Ministério tudo o que se faz não tem pés nem cabeça;
d) - No arquivo deste Ministério nada consta que tivesse estado terminado em apenas 9 meses.

segunda-feira, abril 16, 2012

A BURRICE É UMA CIÊNCIA?






Há tantos burros mandando

em homens de inteligência,

que às vezes fico pensando,

se a burrice não será uma ciência.

'' António Aleixo''

quarta-feira, abril 04, 2012

HOJE DESCOBRI ESTE MEU POEMA QUE TEM 37 ANOS

Achei piada e aí vai esta relíquia do passado que me apeteceu partilhar convosco!
Aí vai!




NOITE
Na noite a casa
O quarto e o menino que dorme
Os carros que passam – rápidos correm
Para destinos desconhecidos...

As paredes
As dimensões que se alongam,
O vento que sopra, a noite…imensa…
Senhora de manto insone, caminha e estende
Os seus tentáculos, pelas ruas cantos e vielas
Enchendo de amplitude os sons…

A noite, misteriosa e excitante,
A noite que me encontra aqui, neste lugar implantado
No tempo e no espaço…
Estou…Sou…
Alguém à procura de alguém que me encontre.
Alguém que não é matéria nem espírito,
Uma bola de fogo subindo imperturbável,
Através de milhares de estrelas que não o são…
Luzes de uma cidade que não vive, porque morreu estrangulada
de trânsito e de ruidos…
Alguém que foi asas e barco e mar e flores na primavera;
Que se vestiu de gelo e de sol para estar nos polos e nos trópicos,
Que cantou e rezando a um Deus desconhecido, inventou palavras novas
Para adornar de luz os cabelos e fez correr os rios por entre os meus dedos,
À descoberta de mundos novos.
Foi a aventura da nau que navegou por mares desconhecidos
E rasgou o ventre desses mares com agulhas de tecer as ondas
E enfunou as velas com a brisa refrescante de uma corrente de
Polos diferentes que se tocam porque aspiraram à proximidade;
E a nau fez-se nave e ascendeu aos céus e ao terceiro dia
Encontrou-se na presença do Homem Novo e ali viu que a sua descoberta
Tinha sido boa e chamou-a de AMOR;
E ficou feliz por ter saído para a rua e ter encontrado a multidão que
Via nele o Salvador.
E encheu-lhe a boca com os suaves aromas que trouxe do Céu e adornou-lhe
A fronte com as flores que crescem nos países que estão por descobrir,
Pelo resto da Humanidade.
E ao cantarem velhas baladas de marinheiros bêbados,
Julgaram que estavam a redescobrir um mundo que tinha sido perdido,
Porque não havia pureza para o agarrar– e juraram que regariam a flor maravilhosa
Que haviam feito nascer.
…E construíram uma fortaleza numa ilha deles e deram-lhe um nome que só eles conheciam…
E julgaram que agora já nada poderia tornar vulnerável o seu mundo… nem a idade, nem
As contrariedades, porque ali o tempo e o espaço tinham sido abolidos.
E o ar ganhou as fragâncias que eles quiseram e tudo se cobriu das cores que eles
Inventaram! Eram, ao mesmo tempo, reis e mendigos, eram, por si só, o princípio e o fim.

E agora, que subitamente pestanejo, olho à minha volta e recupero a consciência de não ter saído deste quarto, do meu menino estar a dormir e de ser noite, noite e dos carros que passam rápidos. Olho as paredes e sinto que estou aqui - cansada… e vou tentar dormir.
Olho mais uma vez para o meu menino, sereno e tranquilo no seu sono e…enfim… comprometo-me a descansar…
DAD
17/7/78

terça-feira, abril 03, 2012

FELIZ PÁSCOA PARA TODOS!






Páscoa é renascimento...

É passagem...

É mudança e transformação...
É ser novo um mesmo ser
Que recomeça pela própria libertação.

Fica para trás uma vida cheia de poeira
E começa agora um novo caminhar
Cheio de luz, de fortalecimento,
Esperanças renovadas,
E um arco-íris rasga o céu
E parece balbuciar que Jesus ressurgiu
para nos provar que o amor
incondicional existe, assim como a vida eterna.











FELIZ PÁSCOA PARA TODOS!
DAD