quarta-feira, agosto 24, 2011

Foi Portugal que se livrou de José Sócrates ou José Sócrates que se livrou de Portugal?


O leitor que tome nota: se isto fosse a Dinamarca já o caldo estava entornado. Jovem
que chegue a Helsingør para as exéquias do pai e dê com a mãe casada com o tio, desata
a planear homicídios e a monologar. Em Portugal, nada. E, no entanto, há tantas razões
para inquietação aqui como lá. O facto de se tratar de uma inquietação romântico-
legislativa inquieta ainda mais. O que se passa é o seguinte: José Sócrates está
demasiado contente. Não me conformo com esta alegria, esta cordialidade, este bom
perder. Quero vê-lo espernear, recriminar os adversários, lançar um último insulto a
Manuela Moura Guedes. Que contentamento é este? Trata-se de uma boa disposição
que ofende. Magoa até quem, como eu, nunca votou nele. Afinal foi Portugal que se
livrou de José Sócrates ou José Sócrates que se livrou de Portugal?

Sócrates tem a desfaçatez de se comportar como aquelas namoradas que aceitam muito
bem a notícia de que o namoro acabou. Não há lágrimas, não há ranho, não há nada. O
fim da relação não é um drama, é um alívio. Ficam mais soltas, mais leves, mais vivas.
E têm finalmente tempo para ir para França tirar aquele curso de Filosofia que sempre
quiseram frequentar. Amigo leitor, não era José Sócrates que estava a entravar o nosso
desenvolvimento, éramos nós que estávamos a entravar o desenvolvimento de José
Sócrates.

Assim como vamos sabendo das antigas namoradas através dos amigos, vamos sabendo
de José Sócrates através do Expresso. E remoemos as informações com azedume. Que
ideia é esta de ir estudar para Paris? E filosofia? Não faz sentido. Uma pessoa chamada
Sócrates decidir estudar filosofia é como um tipo chamado Eusébio querer fazer carreira
no futebol. É má ideia, proporciona comparações desagradáveis.
E não podemos deixar de sentir que Sócrates não vai para França para nos esquecer. Na
verdade, Sócrates já nos esqueceu. E, ao contrário da generalidade dos emigrantes,
Sócrates não parte em busca de melhores condições de vida. José Sócrates não vai
emigrar para fugir de José Sócrates - até porque, em princípio, José Sócrates vai com
José Sócrates. Sócrates vai emigrar para fugir de nós. Alguém que lhe apreenda o
passaporte, por favor. Era o que faltava. Obriguem-no a aguentar as medidas da troika
até ao fim. Só pode sair do País quando o memorando estiver cumprido.

ESTA SITUAÇÃO NÃO ME É ESTRANHA ...



Frase da filósofa russo-americana Ayn Rand (Judia, fugitiva da revolução russa, que chegou aos Estados Unidos na metade da década de 1920), mostrando uma visão com conhecimento de causa:

“Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”.