Os últimos dias foram uma catadupa de acontecimentos memoráveis. Um excesso quase narcótico, uma bebedeira incapacitante. De que é que vou lembrar-me, daqui a uns anos, lúcido, quando tentar recordar estes dias em que Portugal capitula ao agiota estrangeiro? Vou lembrar-me de que a voz de comando neste país parece ser a de Ricardo Salgado, o líder da família banqueira que sobrevive a todos os regimes e que foi capaz de, em 24 horas, com uma simples frase, pôr o Governo a adorar o FMI que antes tantas vezes renegara. E alvitro que Fernando Ulrich, banqueiro rival, fartinho de apelar à mesma intervenção, sem êxito, deve estar a matutar nesse facto. Vou lembrar-me do apelo de 47 personalidades para um amplo consenso nacional que resolva os problemas do País. Olho os nomes e vejo gente que, à conta de supostos "grandes consensos nacionais" como a entrada na CEE, o fim do escudo, a "modernização" da nossa economia, o betão e as auto-estradas, a Expo '98, o Euro 2004, a proliferação de fundações e institutos de coisa alguma ou o pagamento de subsídios para deixar de produzir, participou alegremente na caminhada para o precipício a que chegámos. Como se atrevem a pedir consenso quando o que precisamos, agora mais do que nunca, é de discussão e de procura de novas soluções? Vou lembrar-me de o encontro entre Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã ocorrer horas antes de vário comissários europeus, em disparos mediáticos, exigirem aos partidos portugueses - para concederem o que, talvez por ilusão, talvez por cinismo, qualificam de "ajuda" - obediência cega à lei da sangria financeira das classes trabalhadoras portuguesas. Vou lembrar-me de Fernando Nobre, putativo candidato do PSD a segunda figura do Estado, o homem que jurava na eleição presidencial não alinhar em partidos, para confirmar a suspeita de que o pior da política ainda está por conhecer e bem pode vir de fora dos partidos políticos. Vou lembrar-me do congresso do PS e de como o actor José Sócrates tenta salvar a pele do político José Sócrates. Vou lembrar-me do segundo referendo na Islândia, o país atrevido que volta a recusar pagar uma dívida cobrada a juros imorais. E vou lembrar-me de uns velhos versos de Almeida Garrett, sobre a traição a Viriato, o lusitano: "Pátria!... não temos pátria... Oh! Não há para nós tão doce nome. Grilhões, escravos, cárceres e algozes De quanto outrora fomos, Isto só nos restou, só isto somos." PEDRO TADEU
12 Abril 2011
1 comentário:
DAD,
Ninguém ajuda ninguém. No sistema não existe o verbo ajudar. É um negócio que pretendem realizar com o sangue, suor e lágrimas dos Portugueses. Mas, nem por isso, Portugal deixou de existir ao longo de quase oito séculos. Somos os réis da sobrevivência. Que acolhemos, em nós, o gérmen da traição é um facto evidente. Os Miguel de Vasconcelos são tantos que nem vale a pena enumerá-los.
Um beijo.
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