José Sócrates teve condições únicas para reformar Portugal: uma maioria absoluta e um povo disposto a fazer sacrifícios. E nenhum partido como o PS tem ou tinha em Portugal condições para reformar o sistema com menor turbulência social e política. Mas a verdade é que Sócrates e o PS falharam porque Sócrates foi o homem errado no momento que podia ter sido certo. Afastou do Governo homens que, como Luís Campos e Cunha, não abdicavam da sua opinião, rodeou-se de apparatchiks, yes minister’s e, a partir de 2009, sentou no conselho de ministros a mais completa colecção de jarrões de sala que alguma vez se viu em Portugal em volta de uma mesa. Decapitou a administração pública tornando-a um bando de zombies que sonha com a reforma enquanto cumpre os procedimentos ditados pelos boys. As circunstâncias pessoais de José Sócrates e a forma como foram investigados os casos em que o seu nome é referido, como o Freeport, Face Oculta e Cova da Beira contribuíram decisivamente para o descrédito das instituições, nomeadamente da Justiça. Pouco a pouco as instituições foram ficando cativas de Sócrates. Depois foi a vez do PS. No fim foi o próprio regime que ficou em causa: não só as eleições passaram a ser entendidas como uma ameaça à estabilidade do país como a própria manifestação da discordância política foi apelidada de anti-patriótica. É a segunda vez que o PS entende por resgate do país o seu próprio resgate (a primeira foi aquando do escândalo Casa Pia). O país e o regime são mais importantes que o PS e o PS é mais importante que o seu líder. O PS teve mais do que uma oportunidade de afastar Sócrates. Não o fez. Paga agora o preço dessa falta de sentido crítico. Esse preço poderá ser alto para o PS mas será, sem dúvida, muito mais caro para Portugal. A oportunidade perdida protagonizada por Sócrates foi um desastre para todos nós.
( Artigo da Helena Matos no Público)
5 comentários:
Diz o Povo que atrás de mim virá quem pior fará. Quem manda na casa são aqueles que a habitam.
Beijo.
São necessários instrumentos que permitam dizer que o rei vai nu e que, este e os seus "nobres" se retirem para aposentos onde não mais se vejam.
... É que a dignidade é coisa que se cultiva e a humildade é coisa com que se nasce.
Artigo da Helena Matos, que toca na essência do que nos acontece a cada dia, sem sinais de Paragem deste autocarro.
Beijo
SOL
Oh Dad, sabemos lá quem é o homem certo para tirar isto da desgraça onde está...sabemos lá...
Que venha ele e que haja mudanças com cabeça para que possamos ir andando, pelo menos...
Um beijinho da laura
Tema para reflexão: o Público é um jornal com alguma qualidade (já teve mais), mas com poucos leitores. Apesar de acumular prejuízos todos os anos, o Jornal subsiste porque pertence a um dos grupos económicos mais poderosos do nosso País. É da história recente que o Engº. Belmiro de Azevedo, o dono do Público, não vai com a cara do Engº. Sócrates. E não é por serem ambos engenheiros, sendo que um é verdadeiro e o outro não se sabe. A divergência não tem a ver com diplomas académicos. Acontece que o Engº. Belmiro aponta o dedo a Sócrates como responsável pelo fracasso da OPA imposta pela Sonae à PT. Pessoalmente, gostaria que a OPA tivesse sucesso, porque a Sonae é a única grande empresa do norte. Acham que seria permitido à bonita articulista acima referida, escrever o contrário daquilo que escreveu ?! Isto é, escrever uma ode laudatória ao Sr. Sócrates ?! Tudo não passa de «política económica».
Um beijo.
Não fui eu que o elegi mas já estou a sentir na pele o resultado de todos os seus erros. Só que eu posso sentir na pele, aguento isso ! Mas estou a pensar naqueles que já tinham pouco e ficam com quase nada...
beijinhos, amiga Dad.
Verdinha
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