segunda-feira, abril 11, 2011

Geração à rasca também foi a minha !E as gerações anteriores!




Foi uma Geração que viveu num país vazio de gente por causa da emigração e da guerra colonial, onde era proibido ser diferente, pensar que todos deveriam ter acesso à saúde, ao ensino e à segurança social. Uma Geração de opiniões censuradas a lápis azul. De mulheres com poucos direitos, mas de homens cheios deles. De grávidas sem assistência e de crianças analfabetas. A mortalidade infantil era de 44,9%. Hoje é de 3,6%. Que viveu numa terra em que o casamento era para toda a vida, o divórcio proibido, as uniões de facto eram pecado e filhos sem casar uma desonra. Hoje, o conceito de família mudou. Há casados, recasados, em união de facto, casais homossexuais, monoparentais, sem filhos por opção, mães solteiras porque sim, pais biológicos, etc. A mulher era, perante a lei, inferior. A sociedade subjugava-a ao marido, o chefe de família, que tinha o direito de não autorizar a sua saída do país ou de ler-lhe a correspondência. Os televisores LED, ou a 3 dimensões eram uns caixotes a preto e branco onde se colocava à frente do ecrã um filtro colorido, mas apenas se conseguia transformar os locutores em ET's desfocados. Na rádio ouviam-se apenas 3 estações - a oficial Emissora Nacional, a católica Rádio Renascença e o inovador Rádio Clube Português. Então não tínhamos os Gato Fedorento, mas dava-nos imenso gozo ouvir Os Parodiantes de Lisboa, ou a Voz dos Ridículos. As Raves da época eram as festas de garagem, onde se ouvia música de vinil e se fumava liamba das colónias. Nada de Bares ou Danceterias. As Docas eram para estivadores, e o Texas do Cais do Sodré para marujos. A "Night" era para os boémios. Éramos a geração das tascas, das casas de fado e das boites de fama duvidosa. Discotecas eram lojas que vendiam discos, como a Valentim de Carvalho ou a Vadeca. As Redes Sociais chamavam-se Aerogramas, cartas que a nossa juventude enviava lá da guerra aos pais, noivas, namoradas ou madrinhas de guerra. Agora vivem na Internet, ora alimentando números de socialização no Facebook, ora cultivando batatas no Farmville. Os SMS e E-Mails cheios de k e vazios de acentos eram as nossas cartas e postais ou papelinhos contrabandeados nas aulas. As viagens Low-Cost na nossa Geração eram feitas por via marítima. Quem não se lembra do Niassa, do Timor, do Quanza, do Índia entre outros, tenebrosos navios que, quando embarcávamos, só tínhamos uma certeza - a viagem de ida, quer fosse para Angola, Moçambique ou Guiné. Coca-Cola e Pepsi? Eram proibidas. Bebia-se laranjada, gasosa ou pirolito. Agora IMAGINEM, o que teriam para contar e escrever sobre a sua geração, se o soubessem fazer, os analfabetos, nascidos na década de 30 e 40 do século passado, que viveu os despojos da 2ª. guerra mundial e todos os seus efeitos posteriores, desde o RACIONAMENTO, com o uso de SENHAS, que condicionavam os bens mais comezinhos, como o acesso ao carvão, às bolas de carvão, ao petróleo para uso nos fogareiros, limitava o nº. pães/carcaças às famílias, não havia azeite, açúcar bem como a maioria dos bens alimentares, as famílias completas com 4 e 5 filhos, viviam em buracos telúricos, barracas, quartos ou partes de casa alugadas, as pessoas andavam descalças, rotas mas sem ser por moda, passavam verdadeira fome, empenhavam tudo o que havia em casa à 4ª.Feira, para depois levantar da casa de penhores, se pudessem, ao sábado, dia de receber o reles salário, num ciclo vicioso. Os atrás citados, são a geração dos atuais avós ou bisavós, que ainda vivos continuam a não contar aos descendentes por vergonha do seu passado e depois na ânsia de darem uma vida melhor aos seus filhos e netos os estragaram com mimos e benesses e contribuíram inconscientemente, para que eles enveredassem desmesuradamente pelo consumismo de toda a ordem, criando uma dívida descomunal sem precedentes na história do país. Esta é que é uma verdade insofismável que poucos têm a coragem de contar. Na minha geração, dos jovens só se esperava que fossem para a tropa ou emigrassem. Na minha Geração o País, tal como as fotografias, era a preto e branco. HOUVE...HÁ.....E VAI HAVER SEMPRE...... UMA POLITICA QUE FAZ QUE ANDEMOS Á RASCA NÃO NOS ESQUECEMOS QUE OS Á RASCA HOJE SERÃO OS POLITICOS DO AMANHÃ!

3 comentários:

Paixão Lima disse...

DAD,
Delicioso este texto que traduz, com fidelidade, a triste realidade daqueles tempos. Sou testemunha desses tempos de crise, muito mais dura que a presente, porque era uma crise sem esperança. Vivi, no espírito e no corpo, aqueles tempos de revolta interior, porque a revolta exterior era proibida.
Também recordo, com saudade (?!) porque era novo, os Parodiantes de Lisboa com a Menina Bebé a exclamar: mas que graça qu'eu t'acho.
Parabéns pelo magnífico texto. Muito lindo !
Um beijo.

Green Knight disse...

Apesar de neste passado, me identificar na totalidade,e até com mais agravantes,posso dizer, que só com 17 anos comecei a sentir-me, à rasca, até quando estava na praia,ao ver os navios cheios de jovens, que não sabiam bem para o que iam,a caminho das então nossas colónias.
Quero dizer com isto, que até ser eu protagonista, desta cena e até regressar, vivi sempre à rasca.
Recordo aqui com saudade "o Senhor Messias" e as aventuras do Patilhas e Ventoinha.
Os saudosos irmãos Andrade, que lá para a minha zona vendiam os famosos barretes da Cabana dos Parodiantes.
bjs
jrom

SOL da Esteva disse...

DAD

Eu vivi á rasca... porque aquele tempo (época) era rasca.
Mas não tive ninguém que fizesse algo mais pelo menino/homem que também fui.
Tive que arregaçar mangas e deixar de me sentir rasca.
Apenas sou o que consegui ser.

Beijo
SOL