segunda-feira, janeiro 24, 2011

Portugal e os cidadãos de primeira- por António de Sousa Duarte


As mortes de Vítor Alves, capitão de Abril, e do cronista cor-de-rosa Carlos Castro mostram algumas evidências sobre o país
Separadas por escassas horas, as mortes do coronel Vítor Alves, "capitão de Abril", e do cronista "cor-de-rosa" Carlos Castro tiveram o condão de fazer notar uma vez mais algumas evidências sobre Portugal e os portugueses que nunca será de mais destacar. Na verdade, mesmo admitindo as macabras circunstâncias em que Castro foi assassinado e os requintes de malvadez de que foi aparentemente vítima, não parece normal que tal facto tenha merecido tão esmagadoramente maior espaço mediático do que o desaparecimento de um dos principais símbolos da Revolução do 25 de Abril de 1974 e destacado operacional da construção do processo democrático.

Vítor Alves faleceu Domingo, cerca de 36 horas depois da morte, em Nova Iorque, de um colunista social conhecido por se dedicar há décadas a analisar os factos da actualidade "cor-de-rosa" nacional. Considerado em muitas das biografias espontâneas que dele nos últimos dias chegaram ao nosso conhecimento como "um cidadão de primeira", Vítor Alves foi um homem probo, sério, rigoroso, sensível que contribuiu de forma decisiva - antes e depois do dia 25 de Abril de 74 - para o actual regime democrático em Portugal. Vítor Alves, que integrou, com Vasco Lourenço e Otelo Saraiva de Carvalho, a comissão coordenadora e executiva do MFA (Movimento das Forças Armadas), foi o autor do primeiro comunicado dirigido à população no dia 25 de Abril e o militar que foi o porta-voz do Movimento. Mas as exéquias mediáticas de Vítor Alves foram curtas, muito curtas, se levarmos em conta a importância do seu legado e o impacte informativo que outros factos da actualidade suscitaram e de que é exemplo, sublinho, a vaga noticiosa relativa à morte de Carlos Castro.


O País trocou "um cidadão de primeira" por uma "história de segunda", mas o desiderato é positivo: chancela-se a morte do militar, político, ministro e conselheiro da Revolução em rodapés a correr e baixos de página e atribuem-se honras de Estado... mediático ao assassinato do cronista (não cronista social como alguns lhe chamam, como se Carlos Castro e Fernão Lopes fossem páginas do mesmo livro...) e às incidências macrotrágicas em que foi encontrado o seu corpo após alegada tortura, castração e assassinato. Mas a responsabilidade de todo este "estado a que - de novo e citando Salgueiro Maia - chegámos" não é do povo. Porque não é o povo que edita jornais, blocos noticiosos, telejornais ou sites. Nem é o povo o responsável por Marcelo Rebelo de Sousa ter dedicado ontem, no Jornal da TVI, mais tempo de antena à morte de Carlos Castro do que ao desaparecimento de Vítor Alves.

Ex-jornalista, consultor de comunicação, doutorando em Ciência Política

2 comentários:

Osvaldo disse...

É,... a educação de um povo começa em casa, de seguida na escola e depois é a vida que nos ensina.
Infelismente estes valores há muito que desapareceram, porque dizem o ensino em Portugal era retrógrado, arcaico e sem futuro!... assim como os pais não podem mais repreender os filhos sob pena de cairem sob a alçada da justiça.
Que mais poderei eu aqui argumentar sob pena de também eu me fazer lapidar?!...
Um abraço e certamente a história se encarregará de dar ao Vitor Alves, cidadão íntegro e leal ao seu país, o valor que o povo português lhe deve.

Osvaldo

SOL da Esteva disse...

DAD

é Portugal no seu pior!
É fruto duma educação de massas que a Comunicação (qualquer uma) teima em "vender".
Também é resultado da Educação, da que se ensina, primeiro em casa e depois nas Escolas, ser o que, quem nos dirige, nos "decreta" a cada dia.

Tristes Pais e pobres professores!!!

Beijo
SOL