sexta-feira, fevereiro 08, 2013

Retrato de uma princesa desconhecida

                                           Retrato de uma princesa desconhecida




Para que ela tivesse um pescoço tão fino

Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule

Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos

Para que a sua espinha fosse tão direita

E ela usasse a cabeça tão erguida

Com uma tão simples claridade sobre a testa

Foram necessárias sucessivas gerações de escravos

De corpo dobrado e grossas mãos pacientes

Servindo sucessivas gerações de príncipes

Ainda um pouco toscos e grosseiros

Ávidos cruéis e fraudulentos



Foi um imenso desperdiçar de gente

Para que ela fosse aquela perfeição

Solitária exilada sem destino





Sophia de Mello Breyner Andresen



3 comentários:

Anónimo disse...

Lindo poema de Sofia
Muito bom gosto o facto de se ter lembrado de a publicar.

Já reparei que gosta de poesia.

Bom gosto!

Maria de Lurdes

Paixão Lima disse...

Dad,
Belo poema de Sophia. Grande poetisa e republicana que não gostava da nobreza e dos senhores feudais (que ainda hoje existem).
Beijo.

Maria Eduardo disse...

Olá Amiga,
Gostei muito deste poema de Sophia de Mello Breyner. É sempre bom recordar esta grande poetisa.
Um beijinho