quarta-feira, janeiro 04, 2012

Interessante artigo recebido do amigo Jaime - Gibardeira - vulgo Azevinho

Atenção ecologistas e pessoas de boa vontade

O consumismo desenfreado que, apesar das crises económicas, na época natalícia se manifesta exuberantemente, tende a escamotear as verdadeiras verdades (passe o pleonasmo) da Vida. A utilização dos recursos da natureza deveria basear-se única e exclusivamente no sustento e progresso da Humanidade e das outras espécies animais e vegetais que a irmanam nesta etapa evolutiva do Universo e jamais em superficialidades.
Surge esta tirada filosófica, quiçá exagerada, para aplicar à comezinha constatação de que o azevinho, Ilex aquifolium L., é um arbusto silvestre em perigo de extinção só porque os cristãos começaram a associá-lo ao Natal e a incorporá-lo maciçamente nas ornamentações pueris que caracterizam a quadra, expoente máximo do consumismo no Ocidente.
Ora já não havendo azevinho bastante, de que se lembraram “as criaturas de Deus?” De desbastar a gilbardeira que, em comum com o citado azevinho, só tem os frutinhos escarlates.
E desta forma enviesada, chegamos então à gilbardeira, denominada cientificamente por Ruscus aculeatus L. Confirma-se assim o velho ditado de que as conversas são como as cerejas, perdão, neste caso, como as bagas do azevinho e da gilbardeira.
Discorramos pois sobre este curioso arbusto da família das liliáceas ou das ruscáceas (depende dos especialistas botânicos que, neste caso, parece que ainda não se entenderam), também já muito ameaçado pela moda natalícia. Trata-se de uma espécie perene, oriunda da Eurásia, que pode chegar aos 80 cm de altura. É de cor verde escura e brilhante e possui abundantes rizomas subterrâneos, o que parece garantir a sua sobrevivência face aos constantes ataques dos adoradores do Menino Jesus. Apresenta caules lisos e arredondados e quase não tem folhas que são afinal pequenas escamas pouco visíveis. Em contrapartida, surgem os cladódios, ou seja, as expansões achatadas do caule, de forma ovada e rígida com vértice espinhoso, alternas e sésseis que fazem lembrar autênticas folhas. Na realidade, o observador menos atento e desinformado, julga, equivocadamente, que está a ver as folhas da planta. Ora as flores e os frutos jamais nascem nas folhas e na gilbardeira é nesses cladódios que aparecem as pequenas flores unissexuais e solitárias e mais tarde, os atraentes frutos vermelhos formando bagas globosas de 10 a 15 mm de diâmetro. O contraste entre o vermelho vivo das bagas e a coloração verde brilhante do resto da planta, cativa os curiosos, mas nada os obriga a destruir gilbardeiras só para ornamentar os respetivos presépios. Devemo-nos deleitar apenas pela mera contemplação, se não quisermos obter delas, outros benefícios óbvios para a nossa saúde.
A gilbardeira possui, de facto, grande interesse para a medicina, principalmente os seus rizomas que têm propriedades diuréticas, anti-inflamatórias, emolientes, laxantes, aperitivas e febrífugas.
De entre os seus componentes químicos há a destacar resinas, óleos essenciais, saponósidos, cálcio, nitrato de potássio e outros sais minerais.
Tem aplicações no tratamento de hemorroidas, litíases, edemas, varizes, tendinites e gota. Muito bons resultados vêm sendo obtidos nas insuficiências crónicas venosas, com dor, prurido e inchaço das pernas. Nalgumas regiões francesas a gilbardeira é popularmente conhecida por “plante des jambes légères”, ou seja, planta das pernas ligeiras.
Em uso interno podem preparar-se infusões a partir de 4 g do rizoma por chávena, para beber três vezes ao dia. Há ainda quem recomende o cozimento de 60 g por litro de água para tomar três chávenas diariamente no intervalo das refeições. Usa-se também a tintura (1:10): 4 ml por cada toma. Para uso externo é corrente usar-se a pomada preparada com glicerina a que se junta uma substância extraída do rizoma, denominada “ruscogenina”.
Os frutos da gilbardeira não devem ficar ao alcance das crianças porque, se forem ingeridos, podem provocar vómitos, convulsões e diarreias.
No entanto, diversos autores informam que os rebentos tenros são comestíveis, podendo ser cozinhados como se fossem espargos silvestres. Devo confessar, contudo, que ainda não experimentei tais acepipes.

3 comentários:

Laura disse...

Aqui usamos para enfeites e mais nada, somos assim...burros como se diz...

beijinhos e felizes dias a acontecer.

laura

SOL da Esteva disse...

Saberem-se de tantas qualidades da planta "das pernas ligeiras" e ficar de braços cruzados é assustador.
Há anos se sabe do perigo de extinção desta bela planta, mas teima-se em deixar sem regras a sua preservação.
Dizer, apenas, ser proibido a sua colheita nas zonas onde existe, é pouco, muito pouco.
Esperemos Lei e Ordem.

Belo trecho informativo/Cultural.


Beijos

SOL
http://acordarsonhando.blogspot.com/

Maria Eduardo disse...

Olá Amiga,
Obrigada por esta bela lição de botânica!
Face às propriedades medicinais tão vastas desta planta, porque não se proíbe a sua colheita e venda para fins de pura ostentação? Por ignorância, negligência, ou consumismo desenfreado?
Um abração
maria eduardo