domingo, agosto 12, 2007

Faria hoje 100 anos!


Cantico


Mundo à nossa medida

Redondo como os olhos,

E como eles, também,

A receber de fora A luz e a sombra,

consoante a hora

Mundo apenas pretexto

Doutros mundos.

Base de onde levanta

A inquietação,

Cansada da uniforme rotação

Do dia a dia.


Mundo que a fantasia

Desfigura

A vê-lo cada vez de mais altura.

Mundo do mesmo barro

De que somos feitos.

Carne da nossa carne

Apodrecida.

Mundo que o tempo gasta e arrefece,

Mas o único jardim que se conhece

Onde floresce a vida.


Miguel Torga

4 comentários:

Paula Raposo disse...

Um dos muitos belíssimos poemas de um Poeta! Beijos.

Elfo disse...

Ontem revi-me em Torga, Miguel de Cervantes e Miguel Unamuno. Só em Miguel Torga vejo as minhas montanhas descritas como o mar de pedras onde gosto e sei navegar, cavalgando por sobre as pedras desta Estrela que estente nas três dimensões, como tão bem explica o poeta, destas torgas que aquem a noite nos casebres da montanha onde os homens ainda são rijos como a própria torga (raiz da Urze) que abunda nestas montanhas e que resistem aos incêndios dos pastores, desses incêndios que os corações empedernidos acendem nos fundos das alcovas de estopa e palha de aveia. Nascem rebentos nesses casebres assim como o fazem as Urzes da montanha após um incêndio devastador..., que vão alimentar as ovelhas de que vivem os pastores que por aqui vagueiam. Gente rude como as montanhas que conhecem como as botas rudes que as calcam do nascer ao pôr do sol. Ah estas montanhas da minha saudade por onde gosto de vaguear nos meus dias deste inverno que se vai aproximando a passos largos. São dois invernos, um ciclico outro final e bem real. Queria morrer na serra onde os meus ossos se confundiriam com as pedras monumentais, quais Poios Brancos destes Currais dos Ventos que se deleitam com a vista dos Cântaros que se vestem de branco pelo meu luto a que um dia irão assistir.
Torga, Miguel que tão bem interpretaste estes rochedos de granito rijo que modelam o carácter destes que vagueiam pelas sendas da montanha.

VIAJANTE DO MAR disse...

Miguel Torga...
o dono do Absoluto.

Bjs

ZéZé disse...

Dadinha. Um GRANDE POEMA DE UM ENORME,ENORME POETA. Torga era grande em tudo. Gosto muito de o ler. Obrigada pelo consolo deste poema que me encheu a alma e me emocionou. Muitos beijinhos
Zézé