A chegada de mais um dia 25 de Abril
Liguei a TV e vi imagens que me eram familiares à memória.
Anos 60.
Partes interessantes vividas nos meus dezoito anos. Um enlevo.
E depois o reverso da medalha.
A lembrança das perseguições,
Das prisões, do Portugal amordaçado, da casinha portuguesa,
Pobrezinha e humilde onde deveria não faltar o pão e o vinho
sobre a mesa, mas às vezes faltava...
E as prisões e os desterros e a guerra em África e os mortos e os feridos
E os que não se curaram, até hoje, das mazelas psicológicas…e Cunhal e Soares
A se abraçarem e nós todos a pensarmos que tudo iria ser muito diferente.
Diferente felizmente é e muito.
No 25 de Abril, eu estava em Luanda. Ouvimos a notícia pela BBC e ninguém
queria acreditar. No escritório, nada de ligações para Lisboa, nem os telexes a
funcionar. O medo, a angústia, a grande expectativa e depois a alegria total.
Hoje temos liberdade de expressão, podemos fazer greve sem que nos prendam
(era bom que já não fosse preciso!)e tantas coisas mais, belas todas elas e que foram conquistas de Abril mas que, perante o momento que se vive, já são questionadas por muitos, porque a memória é curta.Hoje temos liberdade – essa não pode ser posta em causa! - mas estamos cada vez mais dependentes do que os Senhores da Europa
querem fazer de nós e o desemprego continua a aumentar e a piorar, e os feudos são cada vez maiores…
Mas a tristeza instalou-se há muito entre nós e o desencorajamento e o medo
Do futuro é um bicho cada vez mais medonho.
Diria que agora precisamos de muita coragem e esperança, expectadores quase incrédulos que somos do que se passa
neste pequeno país que continua com muitos saudosistas doentios, esses que até puseram Salazar como o maior português
De sempre.
A memória é curta, muito curta.
Ainda há dias estive num local onde pressupostamente gente de Abril iria cantar
Zeca e Adriano e fizeram-no.
Mas quando começámos a gritar que queríamos cantar a Grândola, grande parte
do pessoal já não sabia os versos da canção…
A memória é curta, muito curta!