terça-feira, maio 07, 2013

A MORTE SAIU À RUA

A Morte Saiu à Rua


Zeca Afonso


A morte saiu à rua num dia assim


Naquele lugar sem nome para qualquer fim


Uma gota rubra sobre a calçada cai


E um rio de sangue de um peito aberto sai




O vento que dá nas canas do canavial


E a foice duma ceifeira de Portugal


E o som da bigorna como um clarim do céu


Vão dizendo em toda a parte o Pintor morreu




Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual


Só olho por olho e dente por dente vale


À lei assassina, à morte que te matou


Teu corpo pertence à terra que te abraçou




Aqui te afirmamos dente por dente assim


Que um dia rirá melhor quem rirá por fim


Na curva da estrada à covas feitas no chão


E em todas florirão rosas de uma nação


Zeca Afonso

1 comentário:

Maria Eduardo disse...

Olá Amiga DAD,
Lindo este poema do saudoso Zeca, seu amigo e mestre. Como é bom recordá-lo, sempre!
Um grande beijão minha amiga