Achei piada e aí vai esta relíquia do passado que me apeteceu partilhar convosco!
Aí vai!
Aí vai!
NOITE
Na noite a casa
O quarto e o menino que dorme
Os carros que passam – rápidos correm
Para destinos desconhecidos...
As paredes
As dimensões que se alongam,
O vento que sopra, a noite…imensa…
Senhora de manto insone, caminha e estende
Os seus tentáculos, pelas ruas cantos e vielas
Enchendo de amplitude os sons…
A noite, misteriosa e excitante,
A noite que me encontra aqui, neste lugar implantado
No tempo e no espaço…
Estou…Sou…
Alguém à procura de alguém que me encontre.
Alguém que não é matéria nem espírito,
Uma bola de fogo subindo imperturbável,
Através de milhares de estrelas que não o são…
Luzes de uma cidade que não vive, porque morreu estrangulada
de trânsito e de ruidos…
Alguém que foi asas e barco e mar e flores na primavera;
Que se vestiu de gelo e de sol para estar nos polos e nos trópicos,
Que cantou e rezando a um Deus desconhecido, inventou palavras novas
Para adornar de luz os cabelos e fez correr os rios por entre os meus dedos,
À descoberta de mundos novos.
Foi a aventura da nau que navegou por mares desconhecidos
E rasgou o ventre desses mares com agulhas de tecer as ondas
E enfunou as velas com a brisa refrescante de uma corrente de
Polos diferentes que se tocam porque aspiraram à proximidade;
E a nau fez-se nave e ascendeu aos céus e ao terceiro dia
Encontrou-se na presença do Homem Novo e ali viu que a sua descoberta
Tinha sido boa e chamou-a de AMOR;
E ficou feliz por ter saído para a rua e ter encontrado a multidão que
Via nele o Salvador.
E encheu-lhe a boca com os suaves aromas que trouxe do Céu e adornou-lhe
A fronte com as flores que crescem nos países que estão por descobrir,
Pelo resto da Humanidade.
E ao cantarem velhas baladas de marinheiros bêbados,
Julgaram que estavam a redescobrir um mundo que tinha sido perdido,
Porque não havia pureza para o agarrar– e juraram que regariam a flor maravilhosa
Que haviam feito nascer.
…E construíram uma fortaleza numa ilha deles e deram-lhe um nome que só eles conheciam…
E julgaram que agora já nada poderia tornar vulnerável o seu mundo… nem a idade, nem
As contrariedades, porque ali o tempo e o espaço tinham sido abolidos.
E o ar ganhou as fragâncias que eles quiseram e tudo se cobriu das cores que eles
Inventaram! Eram, ao mesmo tempo, reis e mendigos, eram, por si só, o princípio e o fim.
E agora, que subitamente pestanejo, olho à minha volta e recupero a consciência de não ter saído deste quarto, do meu menino estar a dormir e de ser noite, noite e dos carros que passam rápidos. Olho as paredes e sinto que estou aqui - cansada… e vou tentar dormir.
Olho mais uma vez para o meu menino, sereno e tranquilo no seu sono e…enfim… comprometo-me a descansar…
DAD
17/7/78
3 comentários:
Olá Amiga,
Como sempre a surpreender-nos com lindos poemas de amor, meditação e quantos outros sentimentos que só uma alma pensante e sensível como a da Minha Amiga sabe transmitir com tanta paixão!..
Vamos despejar essa gaveta de sonhos e pôr cá para fora essas preciosidades adormecidas.
Obrigada por ter partilhado com os amigos mais um lindo poema vivo de amor!...
Um beijão,
maria eduardo
Dad querida:
Gostei muito da poesia. Além de mais, já mostrava a poetisa que nascia.
Tens mais guardadas? Areja-as. Dá-as a conhecer.
Boa Páscoa, amiga.
Beijinhos
Maria
OLá! DAD minha amiga...
Até parece que, passados que foram 37 anos, o tempo se tenha perdido e o poema tenha sido escrito hoje. Não se nota diferença se não o dissesses!
Muito bem escrito, estruturado, com princípio, meio e fim.
Um Beijo do amigo algarvio.
Enviar um comentário