recordar Daniel Filipe
UM ESPAÇO DEDICADO À PINTURA E À ESCRITA ESPAÇO DE PARTILHA COM TODOS OS MEUS AMIGOS DE TODOS OS CANTOS DESTA NOSSA TERRA, DIGO, PLANETA TERRA, POIS, POR ENQUANTO, AINDA SÓ SONHO COM AS OUTRAS GALÁXIAS...E FICO COM OS PÉS FIRMES POR AQUI...
terça-feira, setembro 27, 2005
A INVENÇÃO DO AMOR
Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares
à porta dos edifícios públicos
nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado
por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro
que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor
Em letras enormes
do tamanho do medo da solidão
da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com caracter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana
Um homem e uma mulher
que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio
A descoberta
A estranheza de um sorriso natural e inesperado
Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo
Um homem e uma mulher
um cartaz de denuncia colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou
A TV anuncia iminente a captura
A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam
tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique
Antes que a invenção do amor se processe em cadeia!
Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos
Chamem as tropas aquarteladas na província
Convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos!
Decrete-se a lei marcial com todas as consequências
O perigo justifica-o
Um homem e uma mulher
conheceram-se, amaram-se, perderam-se no labirinto da cidade
É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas
Daniel Filipe
(in A INVENÇÃO DO AMOR-excerto)
segunda-feira, setembro 19, 2005
A FRAGILIDADE DAS FLORES
De um amigo meu, grande poeta português, o poema que transcrevo:
FRÁGEIS COMO FLORES SELVAGENS
ROMPEMOS O ÚTERO MATERNAL
NA PRESSA DE CHEGAR
AO JARDIM PROMETIDO DAS ILUSÕES
À TERRA DILACERADA POR ESPINHOS
DE DORIDAS RUBRAS ROSAS
QUE FAZEM DE NÓS OUTROS PROMETEUS
A EMPUNHAR A CHAMA OLÍMPICA DE ZEUS.
André Moa
FRÁGEIS COMO FLORES SELVAGENS
ROMPEMOS O ÚTERO MATERNAL
NA PRESSA DE CHEGAR
AO JARDIM PROMETIDO DAS ILUSÕES
À TERRA DILACERADA POR ESPINHOS
DE DORIDAS RUBRAS ROSAS
QUE FAZEM DE NÓS OUTROS PROMETEUS
A EMPUNHAR A CHAMA OLÍMPICA DE ZEUS.
André Moa
segunda-feira, setembro 12, 2005
Reinvindicações... incómodas...???
Monge sofre.....tadinho....
Um monge entra para uma austera ordem onde os irmãos têm o mínimo de comida
e de roupa e apenas podem dizer duas palavras por ano.
No final do primeiro ano, o monge é recebido pelo abade:
- Meu filho - diz o abade, - já cá estás há um ano e tens direito a proferir
duas palavras. Quais é que vão ser?
- Tenho frio - respondeu o monge.
Mais um ano passa, e o monge vai ver o abade novamente:
- Já cá estás há dois anos e tens direito a mais duas palavras. Quais são?
- Tenho fome - respondeu o monge.
No final do terceiro ano, o monge vai ver o abade mais uma vez:
- Há três anos que aqui estás, meu filho. Tens direito a mais duas palavras.
Quais são?
- Vou-me embora - diz o monge.
- Graças a Deus - diz o abade. - Não fizeste outra coisa senão queixar-te
desde que cá chegaste!
quinta-feira, setembro 08, 2005
VEM...
Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento
-Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
Ricardo Reis, em 1914 (Fernando Pessoa)
sexta-feira, setembro 02, 2005
AINDA O CHORO...AINDA O PROTOCOLO DE KYOTO
Choro por aquilo que vejo nos ecrans da televisão;no país do grande senhor, pseudo dono do mundo, negador da assinatura do Protocolo de Kyoto!
Nova Orleans é um cenário de devastação, de pedidos de socorro, de gritos dos vivos, de choros pelos desaparecidos, pelos mortos.Calaram-se os saxofones; os jazz singers que fizeram dela uma cidade especial emudeceram. O sofrimento ultrapassou tudo. A cidade agoniza...
O Presidente da Câmara de N.Orleans acusa o Governo de falta de compreensão do que está a acontecer. Aponta o dedo ao Governo e o Governo vai ouvindo e assistindo ao resultado da catástrofe com uma resposta lenta...lenta...
Cinco dias passaram desde que o Katrina desfez tudo... e as medidas necessárias não foram tomadas.
Cinco dias de terror e de dôr sem resposta rápida!Cinco dias de sofrimento atroz...para a cidade e para o mundo. A Terra revolta-se e grita!
Até quando se passará por cima dos danos que se fazem à natureza e à resposta desta?
Até quanto a leitura política do comportamento de um Governo que passa por cima das regras aceites pela maioria dos países, e continua a ser o maior poluidor do Mundo?
Nova Orleans é um cenário de devastação, de pedidos de socorro, de gritos dos vivos, de choros pelos desaparecidos, pelos mortos.Calaram-se os saxofones; os jazz singers que fizeram dela uma cidade especial emudeceram. O sofrimento ultrapassou tudo. A cidade agoniza...
O Presidente da Câmara de N.Orleans acusa o Governo de falta de compreensão do que está a acontecer. Aponta o dedo ao Governo e o Governo vai ouvindo e assistindo ao resultado da catástrofe com uma resposta lenta...lenta...
Cinco dias passaram desde que o Katrina desfez tudo... e as medidas necessárias não foram tomadas.
Cinco dias de terror e de dôr sem resposta rápida!Cinco dias de sofrimento atroz...para a cidade e para o mundo. A Terra revolta-se e grita!
Até quando se passará por cima dos danos que se fazem à natureza e à resposta desta?
Até quanto a leitura política do comportamento de um Governo que passa por cima das regras aceites pela maioria dos países, e continua a ser o maior poluidor do Mundo?
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