sábado, outubro 15, 2005

HÁ NOITES MÁGICAS...

No Audório Municipal Lourdes Norberto,, em Linda-a-Velha(Edifício Piâmide) o meu amigo Armando Caldas é o mágico que consegue pôr em cena os sentimentos que nos fazem vibrar até às lágrimas, quando se propõe encenar o que já foi encenado milhentas vezes,mas que, com a sua imaginação de mestre e o seu amor pelo mundo onde vive e pelo país que é o nosso, fica transformado num sonho.

A propósito das comemorações dos 400 anos da publicacação do livro de Cervantes, D. Quixote de La Mancha, pôs em cena um espectaculo teatral que para além da magnífica prosa e loucura de Cervantes, foi enriquecido pela imaginação igualmente bela de Orson Wells e pelo desempenho magistral dos actores daquele Grupo Cénico, cuja riqueza espiritual e criativa é do que de melhor existe na nossa terra.!

Tive o grato prazer de assistir ao espectáculo e devo dizer que o vivi de alma e coração e até às lágrimas, a história do cavaleiro de triste figura e do seu escudeiro, Sancho Pança, duas figuras tão cada vez mais reais no nosso mundo do século XXI ! Em cada um de nós há um pouco de Quixote e um pouco de Sancho Pança, mas em cada um de nós não há a magistralidade das palavras que nos cercam como música, dos gestos que nos fazem esvoaçar como anjos, dos sentimentos que nos rodeiam de amores e desamores, como se subitamente este nosso mundo do sec. XXI tivesse parado no suspiro final daquele Sonhador imparável que através da sua loucura procurava encontrar força e coragem para lutar até ao encontro daa sua amada Dulcineia, a alma ideal e afim que todos procuramos e que raramente encontramos.

Frequento aquele Espaço já há algum tempo e sempre ali vi o que de melhor se faz em teatro em Portugal, mas este D. Quixote - o próprio actor e todo o elenco, em geral, transportaram-me a uma dimensão plena de doçura e encanto, misturada com a tristeza e a desilução da realidade que só sentem aqueles que verdadeiramente olham à volta e olham os moinhos monstruosos como gigantes em fúria, com os quais vamos tecendo as teias da nossa vida e lutando para que a liberdade que ganhámos não sucumba com os tentáculos dos monstros que Quixote pressentia e que nós, os modernos, sentimos todos os dias da nossa vida, cada vez mais perto de nós. Que as Dulcineias fazem parte do nosso imaginário, já todos sabemos, mas Quixotes precisam-se, urgentemente, para que possamos continuar a alimentar os sonhos de um mundo mais justo, mais igual, em que cada homem, cada mulher, cada criança, tenha direitos, deveres e oportunidades iguais e não se desvaneçam os sonhos sonhados numa clara manhã de Abril que derrubou os moinhos de ventos, gigantes adamastores dos nossos desencantos e dos nossos pesadelos....

Espero que todos possam ver a peça que ainda vai estar em cena mais duas semanas. Vale a pena ver e vale a pena aplaudir aquela gente cheia de garra e amor ao teatro, que afinal, é a reprodução da nossa própria vida e o espelho da nossa alma errante.

E termino com uma citação do Romeiro, que creio será do Orson Wells (é bem o estilo dele!), e que transcrevo:

"Bem haja quem inventou o sonho!
Capa que proteje todos os humanos pensamentos!
Manjar que tira a fome; água que apaga a sede;
Fogo que afasta o frio; frio que tempera o calor!
Enfim...moeda geral com que todas as coisas se compram..."



1 comentário:

Luiz Gonzalez disse...

Olá
Quero recomendar a todos o livro "Noites Mágicas em Machu Picchu" de Alcione Giacomitti.
Pelo nome do site, acho que tem tudo a ver. Sobre o livro, acho que vocês viverão momentos mágicos em cada página.