quinta-feira, junho 30, 2005

Pleno Sol! Posted by Hello

OPÇÕES

Um Hindu chegou aos arredores de certa aldeia e aí sentou-se para dormir
debaixo de uma árvore.
Chega correndo, então, um habitante daquela aldeia e diz, quase sem fôlego:

- Aquela pedra ! Eu quero aquela pedra.

- Mas que pedra ? pergunta-lhe o Hindu.

- Ontem à noite eu vi meu Senhor Shiva e, num sonho, ele disse que eu viesse
aos arredores da cidade, ao pôr-do-sol; aí devia estar o Hindu que me daria
uma pedra muito grande e preciosa que me faria rico para sempre.

Então, o Hindu mexeu na sua trouxa, tirou a pedra e foi dizendo:
- Provavelmente é desta que ele lhe falou; encontrei-a num trilho da
floresta, alguns dias atrás; podes levá-la!
E assim falando, ofereceu-lhe a pedra.

O homem olhou maravilhado para a pedra.
Era um diamante e, talvez, o maior jamais visto no mundo.

Pegou, pois, o diamante e foi-se embora.
Mas, quando veio a noite, ele virava-se de um lado para o outro na cama, sem
conseguir dormir.
Então, rompendo o dia, foi ver novamente o Hindu e o despertou dizendo:

- Eu quero que me dê essa riqueza que lhe tornou possível desfazer-se de um
diamante tão grande assim, tão facilmente !

terça-feira, junho 28, 2005

Encantamento Posted by Hello

DESTRUIR

"A Gente sempre destrói aquilo que mais ama
em campo aberto ou numa emboscada.
Alguns com a beleza do carinho,
outros com a dureza das palavras.
Os covardes destroem com um beijo
e os valentes destroem com a espada."

Oscar Wilde

segunda-feira, junho 20, 2005

Não lamentes... Posted by Hello

Recordar Sophia


Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.
Mas solitários somos e passamos,

Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se, exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.
Porquê jardins que nós não colheremos,

Límpidos nas auroras a nascer,
Porquê o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.

Sophia de Mello Breyner Andersen

sexta-feira, junho 17, 2005

A planta do Amor(pintura de Dad) Posted by Hello

A FRAGILIDADE DAS FLORES

FRÁGEIS COMO FLORES SELVAGENS
ROMPEMOS O ÚTERO MATERNAL
NA PRESSA DE CHEGAR
AO JARDIM PROMETIDO DAS ILUSÕES
À TERRA DILACERADA POR ESPINHOS
DE DORIDAS RUBRAS ROSAS
QUE FAZEM DE NÓS OUTROS PROMETEUS
A EMPUNHAR A CHAMA OLÍMPICA DE ZEUS.

André Moa

terça-feira, junho 14, 2005

Adeus.... Posted by Hello

ADEUS

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.


Eugénio de Andrade

segunda-feira, junho 13, 2005

REQUIEM Posted by Hello

REQUIEM

Como é estranho que por estranha coincidência três dos homens que mais marcaram o Portugal resistente e depois o Portugal liberto tenham partido quase em simultâneo! O General Vasco Gonçalves, o poeta e escritor Eugénio de Andrade e o Homem que foi Álvaro Cunhal, o comunista em estado puro, como se costumava dizer, para além de pintor,e de escritor, partiram no seu tempo individual contado por relógios que tinham sido, concerteza, acertados simultâneamente. Como não lhes posso cantar um Requiem, espero que a memória destes bravos homens, todos diferentes, mas todos resistentes, perdure na nossa memória colectiva, pois, decididamente, eles marcaram as nossas vidas,embora de maneiras diferentes mas com um objectivo comum. Polémicos, amados por uns ,odiados por outros, mas certamente marcos de uma época que se fez com eles, esperançados sempre num futuro melhor para Portugal e para os portugueses!

sexta-feira, junho 10, 2005

quarta-feira, junho 08, 2005