domingo, agosto 30, 2009

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,Eu era feliz e ninguém estava morto.Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,De ser inteligente para entre a família,E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,O que fui de coração e parentesco.O que fui de serões de meia-província,O que fui de amarem-me e eu ser menino,O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...A que distância!...(Nem o acho...)O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,Pondo grelado nas paredes...O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhaslágrimas),O que eu sou hoje é terem vendido a casa,É terem morrido todos,É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,Por uma viagem metafísica e carnal,Com uma dualidade de eu para mim...Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...Pára, meu coração!Não penses! Deixa o pensar na cabeça!Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!Hoje já não faço anos.Duro.Somam-se-me dias.Serei velho quando o for.Mais nada.Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
(Fernando Pessoa / Álvaro de Campos)

3 comentários:

Je Vois La Vie en Vert disse...

É melhor deixar o passado atrás e olhar para o futuro, querida Dad !

Faz anos hoje ? Se for, então muitos parabéns e uns beijinhos muitos especiais !

verdinha

Ana Paula Fitas disse...

Querida Dad,

Se hoje é o seu aniversário, ficam aqui os meus votos de uma vida longa e feliz e a expressão de que é uma dádiva encontrá-la no nosso caminho!... já agora, minha querida amiga, deixe-me sugerir-lhe que veja e ouça, no A Nossa Candeia, o post que coloquei na 6ªfeira, dia 28, intitulado "Globalização e Solidariedade"... e, por favor, diga ao nosso querido Amigo Mário Mota Marques que o veja e ouça... porque foi inserido a pensar em vós. Um grande, grande abraço e um beijinho,
Ana Paula

Osvaldo disse...

Dad;

No dia que fazia anos... Por quê inventaram essa história de aniversários. Melhor seria que tivessem pensado em outras coisas, porque o tempo passa e as datas de aniversário só servem para nos lembrar que ficamos mais velhos. Nem preciva disso, basta às vezes nos olharmos ao espelho.
Mas porque é que inventaram os espelhos?...

bjs, Dad e se é teu aniversário, recebe os parabéns de teus amigos,
Ana e Osvaldo.