segunda-feira, junho 20, 2005

Recordar Sophia


Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.
Mas solitários somos e passamos,

Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se, exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.
Porquê jardins que nós não colheremos,

Límpidos nas auroras a nascer,
Porquê o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.

Sophia de Mello Breyner Andersen