segunda-feira, maio 23, 2005

A la recherche du temp perdu

Do meu amigo Elfo, recebi como comentário ao post "A nossa Amazónia", um testemunho que eu acho importante publicar na primeira página. Espero que ele não se importe! É importante não esquecer....

"Aos pés da minha cidade corria um ribeiro de águas límpidas onde costumávamos banhar-nos nos finais das tardes calmas de julho e agosto e na volta para casa levávamos sacos com trutas apanhadas à mão nos buracos das pedras.Hoje é um esgoto a céu aberto onde nem as rãs nem as cobras querem viver e os pássaros não descem para beber.Tenho vergonha de mostrar aquele ribeiro à minha filha pois acho que não fiz o suficiente para evitar que os "patos bravos" construíssem desalmadamente próximo do ribeiro.Herdámos o ribeiro e destruí-mo-lo sem deixar rasto para a geração que se seguia.
A serra dos meus encantos para onde os meus olhos se dirigiam quando saía de casa era de um verde forte com correntes de água que caíam do alto das montanhas e isso era uma coisa que estava presente todos os dias da minha infância, e, era tão certo e sagrado como as estrelas do céu nocturno. Quando, com o meu pai, nos deitávamos lado a lado na soleira da porta a olhar as estrelas, o meu pai sempre me dizia que não tentasse contar as estrelas pois isso causava "cravos" nas mãos.Hoje a serra é preta e cinzenta pelos incêndios causados pelo desmazêlo dos homens e eu... já não tenho o meu pai...Parece que uma força da natureza cuidava para que eu tivesse o melhor de tudo. Vivia na cidade e no campo e vi crescer a cidade e assisti ao desaparecimento do campo que deu lugar a um parque industrial e a uma auto-estrada. Os rebanhos de ovelhas desapareceram e nunca mais ouvi o balir dos anhos à minha porta nem o toque dos címbalos que anunciavam a chegada do pastor.Hoje moro num 3º andar num prédio onde nos meus tempos de menino era uma quinta que produzia alimentos e, quando me dirijo às compras tudo o que vejo à venda vem de países estrangeiros. O que é que é que eu digo à minha filha? que lhe usurpei a herança que era dela por direito? Sim, porque foi a minha geração que destruíu tudo o que ficou para trás.

8 comentários:

Elfo disse...

Agora uma lágrima rebelde assomou no meu olho direito, mas não, não me importo.

Anónimo disse...

Eu sabia que não. Obrigada e beijinhossssssssss

Confessionário disse...

Vim logo a correr...
E que vamos deixar?! Ou melhor, que vai deixar a tua filha como herança?! Preocupa-me o que o nosso futuro vai legar...

Anónimo disse...

E a mim também! Como é possível destruir-se tudo, sem qualquer pudor!
Gosto imenso do Confessionário! É um espaço muito bonito.
Obrigada e muitos parabéns!

DAD

Anónimo disse...

Será um sinal dos tempos andarem Galos no Rio?

Anónimo disse...

Claro que são sinais dos tempos! Galos no rio, peixes em terra, gaivotas no crude.... baleias a suicidarem-se nas praias... mas a eterna esperança que tudo possa ser ainda remediado também são sinais dos tempos, não é meu amigo Galrio?

Bjs DAD

Anónimo disse...

Ó Galrio, qual é o teu blog?

Quero visitar-te!

DAD

Elfo disse...

DAD eu sou o Elfo e já me visitaste.